quarta-feira, 28 de novembro de 2012

LIVROS PARA O NATAL


Meu artigo no Público de hoje:


Venho sugerir alguns livros para oferecer no Natal. Não, não são as “bestas céleres” (a expressão é de Alexandre O’Neill) da autoria de E. L. James, J. K. Rowling ou M. R. Pinto, que têm inevitavelmente mais leitores do que merecem, mas obras que merecem mais atenção do que aquela que provavelmente vão ter. A ordem é alfabética pelo apelido do prmeiro autor:

- Cristina Carvalho. Rómulo de Carvalho / António Gedeão. Príncipe Perfeito (Estampa). Já havia uma auto-biografia (Memórias, Fundação Gulbenkian, 2010), mas a filha do professor de ciências e poeta, também ela escritora, escreveu uma biografia de uma personagem ímpar da cultura portuguesa do século XX. Um retrato tirado de perto de um autor cuja memória é inspiradora.

- Umberto Eco, Confissões de um Jovem Escritor (Livros Horizonte). Confesso-me  devorador dos livros de Umberto Eco, sendo este apenas mais um a juntar à longa colecção que possuo do professor e ensaísta da Universidade de Bolonha. Eco fala aqui da oficina do escritor, do entrelaçamento entre ficção e não ficção que ele concretiza nas suas obras de um modo peculiar. O seu último romance ainda é O Cemitério de Praga (Gradiva), saído no ano passado.

- Miguel Figueira de Faria (coordenação). Do Terreiro do Paço. História de um espaço urbano (Imprensa Nacional - Casa da Moeda e Universidade Autónoma). Grande livro, belamente ilustrado, vindo a lume de um prelo prestigiado, que documenta as transformação da “sala de visita” da nação (recentemente pólo de atracção renovado com a abertura ao público da ala nascente). No Paço Real, destruído pelo terramoto de 1755, teve lugar no reinado de D. João V tanto a primeira ascensão em balão como a primeira observação realizado num observatório astronómico português. Houve também no Terreiro do Paço, convém lembrar, autos-de-fé, que aquele rei tanto apreciava.

- Stephen Greenblatt, A Grande Mudança. Origem e história do pensamento moderno (Clube do Autor). Um professor de Harvard, especialista em Shakespeare e no seu tempo, conta-nos neste livro premiado com o Pulitzer a descoberta numa abadia alemã no século XV de um manuscrito do poeta latino Titus Lucrécio Caro, De Rerum Natura (Sobre a Natureza das Coisas). O encontro do poema clássico precedeu o Renascimento e a subsequente Revolução Científica. O título de Lucrécio foi tomado por um blogue convidado do Público, centrado no cruzamento das ciências e das humanidades.

- Fernando Pessoa, Ibéria. Introdução a um imperialismo futuro (Ática). A arca pessoana parece não ter fundo. Na nova série das Obras de Fernando Pessoa, com as tradicionais capas brancas e austeras, esta cuidada edição de Jerónimo Pizarro e Pablo Javier López faculta-nos a visão, fragmentada, de Pessoa sobre a Península, cuja divisão apenas entre Portugal e Espanha volta hoje a ser questionada pelos movimentos na Catalunha.

- Onésimo Teotónio Almeida e João Maurício Brás, Utopias em Dói Menor. Conversas transatlânticas com Onésimo (Gradiva). O filósofo, historiador e cronista português, professor da Universidade Brown, responde numa cativante entrevista a várias questões do pensamento contemporâneo colocadas por um filósofo, não se esquecendo de referir algumas idiosincracias nacionais que convém mudar. O prefácio é do autor destas linhas e o posfácio de José Eduardo Franco, professor da Universidade de Lisboa.

- Nuno Santos, Luís Tirapicos e Nuno Crato, Outras Terras no Universo. Uma história de descoberta de novos planetas (Gradiva). Lançado no dia de aniversário de Rómulo de Carvalho, Dia Nacional da Cultura Científica, no Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra, o livro dá conta de uma das fronteiras mais actuais da ciência: a procura de planetas extra-solares. O primeiro autor, astrofísico da Universidade do Porto, é um dos investigadores mais activos na identificação desse tipo de astros. O último autor, apesar de arredado nos últimos meses da divulgação científica, continua a ser um dos maiores escritores de ciência entre nós. O editor, Guilherme Valente, recebeu no referido dia o Grande Prémio Ciência Viva, tendo na ocasião sido invocados os 30 anos da colecção Ciência Aberta de que este volume é o número 197.

- Irvin D. Yalom, O Problema Espinosa (Saída de Emergência). Da pena de um professor em Stanford e psicoterapeuta, autor de Quando Nietzsche Chorou, um romance baseado na vida e obra de Bento Espinosa, o filósofo de origem portuguesa que foi excomungado por heresia, na Sinagoga Portuguesa de Amesterdão. Espinosa é também o tema de um livro do neurocientista português António Damásio, Ao Encontro de Espinosa (Temas e Debates e Círculo de Leitores, 2013), saído agora de novo em edição revista e com novo prefácio.

Boas Festas e boas leituras!

3 comentários:

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Espírito de natal é conforto no bolso!

Carlos Medina Ribeiro disse...

Aqui fica uma sugestão:
«A Civilização do espectáculo», livro recente de M. Vargas Llosa.

A. Kuettner de Magalhães disse...

Haja, ainda vontade(e dinheiro) para sabermos ler!!!

Obrigado pelas sugestões.

NOVA ATLÂNTIDA

 A “Atlantís” disponibilizou o seu número mais recente (em acesso aberto). Convidamos a navegar pelo sumário da revista para aceder à info...