sexta-feira, 29 de junho de 2012

TOMATES E DINOSSAUROS



Minha crónica de hoje no "Sol":

O tomate é umingrediente fundamental da dieta mediterrânica. As nutricionistas não se cansam de recomendar o seu consumo não só por ter poucas calorias mas também por possuirum antioxidante (o licopeno), que ajuda a impedir e reparar estragos nas nossas células, e vitaminas de vários tipos (C, A e complexo B). Esse antioxidante é oresponsável pela cor vermelha tão característica do tomate. Foi decerto devido a essa cor que o Partido Socialista Holandês escolheu para seu símbolo um tomate.

Ora uma equipa internacional, designada por Consórcio do Genoma do Tomate, publicou na revista Nature de 31 de Maio passado asequenciação genética de uma espécie doméstica do tomate (a Heinz 1706, usada para fazer ketchup) e de outra selvagem, típica da América do Sul, de onde o tomate veio no século XVI, trazido pelos descobridores espanhóis, para só dois séculos mais tarde entrar na gastronomia europeia. A batata, que pertence aliás à mesma família botânica (a diferença é que o tomate é um fruto, ao passo que a batata é um caule), também teve a mesma origem. Do ponto de vista genético as espécies doméstica e selvagem de tomate são praticamente iguais. Curiosamente, a diferença genética entre as plantas dotomate e da batata é de apenas oito por cento.

A descoberta maiscuriosa foi, porém, a contagem de 32 000 genes no tomateiro, quase dez mil amais do que a espécie humana, embora contidos em apenas 12 pares de cromossomas ao passo que nós possuímos 23. Não, a posse de mais genes não significa uma vantagem competitiva, uma vez que os genes humanos são bastante mais versáteis. Mas deonde é que vieram tantos genes no tomateiro? Pois os geneticistas concluíram que, há cerca de 65 milhões de anos, ocorreu uma triplicação dos genes do tomateiro, um evento que associaram à catástrofe climática que extinguiu os dinossauros, devida provavelmente à queda de um enorme meteorito no México. Essesgenes adicionais permitiram a sobrevivência da planta em condições extremamentedifíceis, como a diminuição da luz solar. Alguns dos genes surgidos na altura têma ver com a produção de licopeno e, portanto, com a cor do tomate. É como se o tomate tivesse sido reinventado nessa época. E, para a nossa dieta e para a nossa saúde, ainda bem que assim foi!

3 comentários:

André R. disse...

A espécie humana possui 23 pares de cromossomas, logo, 46 cromossomas, em cada uma das suas células somáticas normais (excluem-se portanto as células sexuais e células com mutações cromossómicas numéricas). Seria interessante e importante explicar de que forma ocorre e quais as consequências a nível evolutivo da duplicação de genes em plantas, fenómeno que, em animais, significa quase sempre a inviabilidade dos embriões. A evolução biológica é um terreno 'escorregadio'...

José Batista da Ascenção disse...

André
A multiplicação dos cromossomas em plantas origina outras plantas normalmente viáveis, chamadas poliplóides.
Os poliplóides têm tendência a crescer mais e a produzir frutos maiores do que os exemplares normais (diplóides).
Nas plantas de espécies próximas, os seus gâmetas encontram-se com facilidade (dispersos por animais como os insetos, levados pelo vento ou pela água...) pelo que se originam facilmente híbridos com tendência para a esterilidade. Porém, se nestes híbridos ocorrer duplicação dos cromossomas, obtêm-se poliplóides (por exemplo tetraplóides) férteis, que constituem novas espécies (num tempo curto...)
A maioria das espécies das plantas com flor são poliplóides. Na agricultura, quando há investigação científica, como em Portugal já houve, produzem-se muitos poliplóides. O professor Miguel Mota, catedrático jubilado (ver "agriciência. blogspot.com") criou, por exemplo, um poliplóide derivado do cruzamento de trigo (que exige solos mais férteis) com centeio (que vinga em solos mais pobres) obtendo-se um híbrido a que se aumentou a ploidia e se chamou "triticale". Hoje, não temos investigação em agricultura...
A multiplicação da ploidia pode ter outros objetivos: por exemplo, as bananeiras diplóides dão bananas com sementes, mas, como era chato comer bananas e ter que engolir ou cuspir as sementes, produziram-se bananas triplóies, que são estéreis, isto é, que não dão sementes, e por isso são mais adequadas para a alimentação humana.
Por vezes há algum espalhafato televisivo com abóboras ou batatas ou couves que atingem dimensões gigantescas. Em muitos casos não são mais que ocorrências de poliploidia que a natureza vai proporcionando.
Isto com as plantas, porque com os animais o processo não ocorre, por um lado o encontro de gâmetas de espécies diferentes não é fácil e, mesmo que ocorresse, a fecundação seria difícil, e também, não era fácil a embriologia e a fisiologia de alguma que resultasse...
Escrevi isto à pressa. No entanto vou deixar assim, sujeito a alguma correção posterior, minha ou de outros, que, neste caso, agradeço.

José Batista da Ascenção disse...

Caro André:

Se acaso me adiantei em explicações que não precisa e dispensa, peço-lhe desculpa. Só que achei o tema tão interessante que não me importava de o discutir, aproveitando para aprender mais qualquer coisa...

Já agora, o blogue do Professor Miguel Mota está mal indicado, o endereço correto é: http://www.agriciencia.blogspot.pt/
Assim é que é. Também por este lapso apresento desculpas.

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